sexta-feira, 28 de maio de 2010

QUAIS SÃO OS LIMITES DO MÚSICO CRISTÃO?

(Por Osvaldo Lima)

     Talvez essa pergunta seja fundamental para compreender aquilo que fazemos dentro da Igreja. Somos convidados por Cristo a espalhar no mundo o amor de Deus. Diante das nossas limitações humanas, dos nossos pecados e vícios, somos chamados a vivenciar a experiência do amor eterno ainda aqui na terra. A experiência divina nos revela a alegria de ser cristão, de ser Igreja, de ser filhos de Deus. É este o mistério da nossa fé que nos impulsiona a cantar o Cristo, vivo e ressuscitado, no meio do mundo. Mas quais são os nossos limites?
     Em Cristo, o nosso cantar não se limita a enfeitar as celebrações da santa missa, os encontros de jovens, os grupos carismáticos ou qualquer evento pastoral. Em Cristo, somos convidados a cantar a própria vida, no silêncio do nosso próprio eu. E lá dentro, queira Deus, transformar o mundo que habita em nós. Essa é a única maneira de termos fôlego para ecoar com toda a força o canto da verdadeira felicidade: a vida nova em Cristo.
      A experiência de Maria Madalena, retratada por João (Jo 20, 11-18), evidencia essa experiência de “ecoar” aquilo que me transformou, na certeza que um encontro verdadeiro com Cristo pode transformar a nossa própria vida e a dos outros. Logo após a morte de Cristo, Maria Madalena se encontra à frente do sepulcro chorando. O próprio Cristo aparece para ela e após uma série de perguntas ele se revela e pede para que ela vá dizer o que ocorreu para seus irmãos. “Então, Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’, e contou o que ele lhes tinha dito.” (Jo 20,18). Maria Madalena, mulher que até algum tempo era considerada a pior das mulheres, adúltera, foi a primeira a contar aos discípulos sobre a ressurreição de Cristo. Ela não pensou se seria considerada louca diante da notícia. Ela não pensou nas suas limitações. Simplesmente, acreditou Naquele que transformou a sua vida, e saiu a anunciar, na certeza de que “Eu vi o Senhor”.
      Eis aqui os limites do músico cristão! Com a força que o encontro com Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação. “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil 4,13). Para isso, é necessário a cada dia renovar esse encontro com Cristo. Por isso, a vida de um músico precisa ser permeada por momentos de oração, de confissão, de eucaristia, de adoração. Somos limitados, mas em Cristo podemos ser “luz e sal para o mundo” (Mt 5, 13-15) .
      Não devemos fingir cantar aquilo que não vivenciamos. Não devemos fingir que tocamos aquilo que nunca sentimos. O verdadeiro louvor a Deus é fruto de uma experiência maior da graça divina. Por isso, precisamos de momentos para contemplar e meditar aquilo que nos mesmo tocamos e cantamos. Na vida de um músico cristão é necessário parar para ouvir e, muitas vezes, até chorar, assim como Maria Madalena.
     Que o Espírito Santo nos ajude nesta caminha iluminando nossa mente e nossos dons. Que Santa Cecília, padroeira dos músicos, interceda por nós ao Pai.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

CNBB - Carta aos agentes de Música Litúrgica do Brasil

Meus caros irmãos em Cristo,

Essa vida de tocar na Igreja é uma atividade pastoral muito gratificante! Muitas bençãos e milagres são já foram alcançadas a partir da música cristã católica, seja no que diz respeito a vida pessoal e em comunidade. É muito bom saber que aquilo que fazemos engrandece o Reino de Deus, a Glória de Cristo. É para isso que fomos chamamos: CANTAR A GLÓRIA DE CRISTO!

O problema é que, às vezes, essa atividade já me deu muita dor de cabeça! Dentre os diversos motivos, um deles está relacionado aos vícios que acabam nos afastando do objetivo da missão, como é o caso do improviso, do microfone alto, da falsa impressão da participação da comunidade e da falta do cultivo da espiritualidade...

Com certeza, você já passou desapercebido por situações parecidas! Ao que parece não somos os únicos a vivenciarmos isso em nossa realidade paroquial. Talvez seja por isso que a CNBB publicou no ano passado uma carta aos AGENTES DE MÚSICA LITÚRGICA DO BRASIL.

Você já teve a oportunidade de ler?

Se por acaso você não teve acesso a esse material. É um material muito importante para a nossa formação pastoral é que vale a pena ser lida e, melhor ainda, colocada em prática!

Como nos diz o método catequético, é necessário VER, para bem JULGAR e, consequentemente, bem AGIR. Afinal de contas, "tocamos no maior show do mundo", a SANTA MISSA. Um "show" em que todos participamos, sejam eles músicos e cantores, afinados e desafinados, sozinho ou em comunidade, somos todos importantes para "Cantar a Glória de Cristo"...

Leia com atenção e com amor a Cristo! E não esqueça de rezar por mim e se tiver um tempinho, deixo o seu comentário!
(Osvaldo Lima)

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB
Brasília-DF, 25 de setembro de 2008
ML – C – Nº 0845/08
A liturgia ocupa um lugar central em toda a ação evangelizadora da Igreja. Ela é o “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força” (SC 10). Nela, o discípulo realiza o mais íntimo encontro com seu Senhor e dela recebe a motivação e a força máximas para a sua missão na Igreja e no mundo (cf. DGAE nº 67).

Há uma relação muito profunda entre beleza e liturgia. Beleza não como mero esteticismo, mas como modalidade pela qual a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor (cf. SCa 35). Unida ao espaço litúrgico, a música é genuína expressão de beleza, tem especial capacidade de atingir os corações e, na liturgia, grande eficácia pedagógica para levá-los a penetrar no mistério celebrado.

Acompanhamos, com entusiasmo e alegria, o florescer de grupos de canto e música litúrgica, grupos instrumentais e vocais, que exercem o importante ministério de zelar pela beleza e profundidade da liturgia através do canto e da música. Sua animação e criatividade encantam muitos daqueles que participam das celebrações litúrgicas em nossas comunidades. Ao soar dos primeiros acordes e ao canto da primeira nota, sentimos mais profundamente a presença de Deus.

Lembramos alguns aspectos importantes que contribuem para a grandeza do mistério celebrado.

1. A importância da letra na música litúrgica - a letra tem a primazia, a música está a seu serviço. A descoberta da beleza de um canto litúrgico passa necessariamente pela análise cuidadosa do conteúdo do texto e da poesia. A beleza estética não é o único critério. Muitas músicas cantadas em nossas liturgias estão distanciadas do contexto celebrativo. “Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; é necessário evitar a improvisação genérica e o canto deve integrar-se na forma própria da celebração” (SCa 42). Não é possível cantar qualquer canto em qualquer momento ou em qualquer tempo. O canto “precisa estar intimamente vinculado ao rito, ou seja, ao momento celebrativo e ao tempo litúrgico” (DGAE 76). Antes de escolher um canto litúrgico é preciso aprofundar o sentido dos textos bíblicos, do tempo litúrgico, da festa celebrada e do momento ritual.

2. A participação da assembléia no canto - o Concílio Vaticano II enfatiza a participação ativa, consciente, plena, frutuosa, externa e interna de todos os fiéis (cf. SC 14). O canto litúrgico não é propriedade particular de um cantor, animador, ou de um seleto grupo de cantores. A liturgia permite alguns momentos para solos (tanto vocais quanto instrumentais), porém a assembléia deve ter prioridade na execução dos cantos litúrgicos. O animador ou o cantor tem a importante missão, como elemento intrínseco ao serviço que presta à comunidade, de favorecer o canto da assembléia, ora sustentando, ora fazendo pequenos gestos de regência, contribuindo para a participação ativa de toda a comunidade celebrante.

3. Cuidado com o volume dos instrumentos e microfones - em muitas comunidades, o excessivo volume dos instrumentos, como também a grande quantidade de microfones para os cantores, às vezes, não contribuem para um mergulho no mistério celebrado, antes, provocam a agitação interior e a dispersão, além de inibir a participação da assembléia no canto. Pede-se cuidado com o volume do som, a fim de que as celebrações sejam mais orantes , pois tudo deve contribuir para a beleza do momento ritual.

4. Cultivar uma espiritualidade litúrgica - os cantores e instrumentistas exercem um verdadeiro ministério litúrgico (SC 29). A celebração não é um momento para fazer um show, para apresentação de qualidades e aptidões. Os cantores e instrumentistas devem, antes de tudo, mergulhar no mistério, ouvir e acolher com a devida atenção a Palavra de Deus e participar intensamente de todos os momentos da celebração. Música litúrgica e espiritualidade litúrgica devem andar juntas, são duas asas de um mesmo vôo, duas nascentes de uma mesma fonte.
Invocamos as luzes do Espírito Santo sobre todos os agentes de música litúrgica de nosso país. Reconhecemos o valoro do ministério exercido a serviço de celebrações reveladoras da beleza suprema do Deus criador e da atualização do Mistério Pascal de Jesus Cristo.

D. Joviano de Lima Júnior, SSS
Arcebispo de Ribeirão Preto e
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia