quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quando você canta, você reza?

Como diz Santo Agostinho: “Quem canta reza duas vezes, pois cantar é próprio de quem ama!”.
Quando tinha doze anos de idade, iniciei meus estudos na música por causa de uma Banda chamada Nova Geração, da Comunidade São Francisco de Assis, na cidade-satélite de Ceilândia Sul, Distrito Federal. Na época fiquei muito entusiasmado com o teclado. Era um instrumento diferente, com um som maravilhoso. Lembro-me até hoje do solo no teclado da música que me conquistou. Depois, aprendi violão, baixo... mas estudei somente o necessário para às necessidades...
Fui convidado na época pelo Frei Sellito, pároco-franciscano, para ajudar na comunidade de Nossa Senhora de Guadalupe, na mesma região. Era muito raro encontrar alguém que soubesse tocar e cantar, e com disposição para trabalhar na Igreja. Foi assim que iniciei minha caminhada de salvação através da música católica.

Tocar na missa tornou-se para mim uma obsessão. Houve uma época que tocava em quatro missas no domingo. Tocava em encontros de jovens, Apostolado da Oração, Renovação Carismática, velório... Tudo o que aparecia, lá estava eu. 
Foi então que a batalha do música na fé aflorou. A cada dia a tentação me fazia parecer o "Alvin" do desenho animado: o bom, o conquistador de meninas, o melhor... Me achava o cara, mas, ao mesmo tempo, me perdia na vaidade e no orgulho. Não tenho vergonha de confessar isso, pois era muito jovem e imaturo.
Mas Deus nunca me abandonou e não me deixou ficar na tentação. Foi lapidando esse dom em mim. Foi apresentando pessoas, como o Sr. Odilon (falecido), que sempre me dizia: "para tocar na Igreja a primeira coisa que você precisa ter é humildade. Viu, Vadinho!". O Sr. Odilon era conhecido como "Seu Sábia". Tinha a voz rouca. Tocava no estilo caipira. Todo o seu equipamento era "reciclado". Mas tocava e cantava de um jeito que me fazia sentir mais perto de Deus. Tenho uma viola caipira que se chama "Sábia", em sua homenagem.
Foi desse jeito, que Deus foi abrindo o meu coração. Foi a partir de momentos, como este, que passei a mergulhar nos mistérios da fé expressos nas letras dos cantos litúrgicos que entoava. Foi assim, que descobri que cantar na Igreja só confiando na técnica, no domínio do público, no dom natural, pode significar não rezar.
Hoje, depois de 22 anos dedicados à música católica, sei que nosso cantar será tanto mais santo quanto mais intimamente revelar nossa comunhão com Deus, nossa fé. Por isso, a necessidade de esvaziar toda a vaidade, toda exibição teatral, todo sentimentalismo. Nosso canto deve revelar no meio de nós a ação salvadora, as palavras e os gestos de Jesus e as aspirações do povo de Deus.
Nesse sentido, precisamos valorizar a música nos ritos sagrados. Precisamos recuperar o seu valor e lugar, seja nos momentos de evangelização, no momento da leitura orante da palavra sagrada, na reza de um terço e, principalmente, na celebração eucarística. O canto não serve somente para embelezar a ação litúrgica, ornamentá-la ou servir como “pano-de-fundo”. Nosso cantar deve estar a serviço do louvor a Deus e de nossa santificação.
É a busca por santificação que faz com que a música nos una e nos aproxime de Deus. Penso que na época de Santo Agostinho havia mais vivacidade no cantar. A música expressa mais aquilo que estava no fundo da alma... “cantar é próprio de quem ama!”.
Que Deus conceda-nos a graça de louvá-lo e e bendize-lo todos os dias de nossas vidas. Que o Espírito Santo ilumine a todos os músicos com sua sabedoria e discernimento. E que o amor de Cristo permaneça em nossos corações para que possamos levar esse mesmo amor a todos os cantos do mundo até que Ele volte. Santa Cecília, rogai por nós.
Com amor fraterno,
Osvaldo Lima

Um comentário:

DANILO disse...

Ótimo post! As vezes me sintia nessa vaidade também. Toco na minha comunidade faz uns seis anos e aqui tem um "músico" que se acha o bom só porque já gravou um cd. Lembro que quando aprendi a tocar ele sentia que tava "perdendo espaço", mas graças a Deus, eu nunca fui assim. Queria e quero somente somar e não dividir. Rezo muito por esse irmãozinho e faço constantemente minhas oraçoes e antes de dormir sempre leio a Bíblia.

Que Deus lhe abençõe e nos abençoes para sermos servos de Deus. AMEM